Caros leitores, no início de abril de 2014 as atividades do grupo Rede de Cooperação Identidades Culturais, cujas pesquisas eram aqui divulgadas, foram encerradas por uma decisão unilateral da Secretaria Municipal da Cultura de Ribeirão Preto. Contudo, os pesquisadores da antiga Rede montaram um grupo no CNPq e continuam a refletir sobre as referências culturais no estado de São Paulo. O fruto deste trabalho continuará sendo publicado neste blog e no site do IPCCIC - Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais, instituição da qual faz parte a maioria dos antigos membros da Rede de Cooperação. Abaixo, a transcrição na íntegra da carta que foi encaminhada à sociedade.
Ribeirão Preto 01 de Abril de
2014
Carta aberta à comunidade
Prezados ribeirão-pretanos
Prezado Sr. Secretário da Cultura
Queremos por
meio desta carta esclarecer alguns pontos desconhecidos sobre a condução da
Rede de Cooperação de Identidades Culturais.
Entre 2010 e
2012 um grupo multidisciplinar de especialistas, mestres e doutores em diversas
áreas, foi convidado a participar de uma proposta para rastrear, conhecer e
registrar o patrimônio material e imaterial do Município de Ribeirão Preto
marcado pela cultura do café no período de 1870 a 1950.
Essa proposta
estava amparada por um convênio firmado entre a Secretaria da Cultura e o órgão
máximo de pesquisa e salvaguarda do patrimônio do Brasil: IPHAN – Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A fim de
viabilizar financeiramente a participação dos pesquisadores foi firmado um protocolo
de cooperação, onde as instituições de ensino superior aos quais somos ligados
ficaram responsáveis pela liberação de determinados valores mensais, isentando
a municipalidade desse ônus.
A partir de
então nos reunimos semanalmente alternando pesquisa exaustiva de gabinete com
trabalho de campo, investigando fazendas e ruas do recorte histórico-geográfico
determinado pelo projeto. Nesse período foram pesquisados os bairros: Centro,
Vila Tibério, Campos Elíseos, Ipiranga, Vila Virgínia e o distrito de Bonfim
Paulista. Sobre essas áreas foram levantados dados históricos, produções
bibliográficas, iconografia, memórias dos locais, informações sobre o
patrimônio edificado, em especial na caracterização arquitetônica, e quando
possível à identificação do estado de preservação e conservação. Esse material
foi publicado em diversos livros disponibilizado na rede de ensino público. Em
termos quantitativos podemos citar como resultado dessa pesquisa:
- No Centro foram levantados mais
de 500 bens de naturezas material e imaterial, essa pesquisa resultou no
projeto de revitalização da região central;
- No distrito de Bonfim Paulista
foram levantados mais de 70 bens materiais e imateriais;
- No Cemitério da Saudade foram
estudados mais de 60 túmulos que registram o patrimônio material e imaterial
que registram o oficio de marmorista, por exemplo;
- Na região rural foram
identificadas e mapeadas 64 fazendas remanescentes do período cafeeiro que
contém além das edificações do período, a memória do patrimônio imaterial.
Nessa fase
tínhamos à disposição dentro da Secretaria da Cultura uma coordenação de
pesquisa, duas supervisoras de campo (remuneradas através da parceria público-privada),
oito estagiários fornecidos pelas diferentes instituições de ensino superior, e
infraestrutura apropriada como, por exemplo, local das reuniões e transporte
para as pesquisas de campo.
Nesses três
anos foram produzidos três relatórios anuais enviados para o IPHAN, para a
Secretaria da Cultura, para o CONPPAC – Conselho Municipal de Preservação do
Patrimônio Cultural -, para as instituições parceiras e disponibilizado para a
comunidade em um blog produzido pela Rede para esse fim.
A ideia primeira
dessa pesquisa era levantar dados que fornecessem subsídios para a produção de
políticas públicas patrimoniais que envolveriam, entre outras coisas, o
reconhecimento da cidade como Paisagem Cultural do Café, o que favoreceria em
um futuro próximo o envio de projetos e captação de recursos do governo
federal. Exemplo disso, foi o envio do dossiê para a solicitação de tombamento
do Quarteirão Paulista ao IPHAN no ano de 2011-2012.
Entretanto ao
longo do ano de 2013 o trabalho aconteceu de maneira morosa, sendo prejudicado
pela falta de estrutura da Secretaria da Cultura, por meio da Divisão de
Patrimônio Cultural que não parecia focada na continuidade do projeto. A
pesquisa, por sua vez, que já estava disponibilizada para a comunidade por meio
eletrônico e impresso nos relatórios técnicos, foi sumarizada na publicação do
livro Paisagem Cultural do café, viabilizado financeiramente através dos fundos
captados pelo ProAc – Programa de incentivo a cultura do Estado de São Paulo.
O restante do
trabalho deveria ser finalizado no ano de 2014 e 2015, com o avanço dos estudos
sobre os bairros Vila Tibério, Vila Virgínia, Campos Elíseos e Ipiranga.
Contudo o convênio com o IPHAN findou em Dezembro de 2013, período em que os
pesquisadores cobraram da Secretaria da Cultura uma posição visando a renovação
desse convenio e a continuidade da pesquisa.
Dito isso, a
Rede de Cooperação de Identidades Culturais, representada aqui pelos
pesquisadores das Intuições de Ensino Superior da cidade de Ribeirão Preto e
São Paulo vem por meio desta informar que até a presente data não obteve
resposta do Secretário da Cultura de Ribeirão Preto e consideramos que a
ausência desse posicionamento deixa claro o desejo unilateral por parte do
poder executivo de extinguir o referido projeto.
Portanto,
finalizamos esta carta aberta informando à comunidade que a não continuidade da
pesquisa interrompeu a realização do Inventário Nacional de Referências
Culturais, orientado pelo IPHAN, tirando de Ribeirão Preto a oportunidade de
integrar o banco de dados Federal, na área de patrimônio, o que em muito
facilitaria a captação de recursos federais nesta área.
Mr. Ana Carolina Gleria
Esp.
Aurélio Manoel Corrêa Guazzelli
Mr. Carolina Margarido Moreira
Mr. Delson Ferreira
Esp. Domingos J. L. Guimarães
Dra. Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa
Mr. Marcelo Carlucci
Profa. Mônica Jaqueline de Oliveira
Dra. Sandra Rita Molina