quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A Capelinha de Bonfim Paulista.


Foto: Aureliano Borges na entrada da Capelinha.
Fonte: Rede de Cooperação Identidades Culturais, 2011


Afetividade e religiosidade: a Capela dos Noivos.

No dia 29 de setembro de 2011, o senhor Aureliano Borges foi entrevistado pela pesquisadora Mônica Jaqueline de Oliveira, membro da Rede de Cooperação Identidades Culturais. O propósito inicial era falar sobre o Clube Esportivo Atlético Bonfinense.
Contudo, no decorrer da entrevista o Sr. Aureliano relatou à pesquisadora o seu envolvimento afetivo com a Capelinha, também conhecida como Capela dos Noivos, Capela de São Sebastião, entre outras denominações. A partir das informações coletadas no encontro com Aureliano, o grupo realizou outras quatro entrevistas com moradores de Bonfim Paulista sobre esta edificação religiosa, que se localizava no meio do caminho da Estrada Municipal, que liga Bonfim Paulista às fazendas da região.
A Capelinha foi erguida no local onde anteriormente havia um Cruzeiro. De acordo com os relatos este é o local de sepultamento de um casal de noivos mortos pelo pai da noiva.

Dona Terezinha Greggio Coli lembra emocionada das procissões que aconteciam na época de estiagem. Os pequenos agricultores que corriam o risco de perder sua safra por causa da seca passavam nove dias em procissão das fazendas à Capela, carregando baldes e garrafões de água. No local rezavam missas e terços em louvor a São Sebastião, para que a chuva voltasse a cair e salvasse as plantações.  “Nós nunca chegamos ao nono dia sem chuva, no quarto ou no sexto dia nossas preces eram atendidas e a chuva caia [...]. Era um povo de muita fé” relembra Terezinha com os olhos marejados.
As entrevistas levaram os pesquisadores a inventariarem a Capelinha na categoria de Lugar. Na metodologia do INRC (INRC - Inventário Nacional de Referências Culturais), usada pela equipe da Rede de cooperação, essa categoria diz respeito aos bens que possuem sentido cultural diferenciado para a população local. São espaços demarcados geograficamente e apropriados por práticas e atividades de naturezas variadas (trabalho, comércio, lazer, religião, política). Nesse caso, o valor do bem cultural, a Capelinha, não é estético ou arquitetônico, mas um valor simbólico, marcado pela religiosidade local.

Foto: Fachada Principal da  Construção da Nova Capelinha (réplica)
Fonte: Rede de Cooperação Identidades Culturais, 2012

 Entre o final de 2011 e o início de 2012, o local da Capelinha deu lugar a um empreendimento imobiliário. De início a pequena capela foi poupada, pois ficava evidente a forte relação afetiva entre a população da região e a edificação. Contudo, como a construção ficava bem em frente a portaria principal de um futuro condomínio, a empresa demoliu a Capela e construiu uma nova edificação em outro local. Sobre essa questão o Sr Aureliano fez a seguinte observação: “Quem morreu ali não sai dali para acompanhar a Capela”.
Atualmente, a equipe de pesquisadores trabalha para medir qual foi o impacto da demolição e da construção da nova Capelinha para a população local.




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